Era uma vez uma menina que nunca havia se entregado para ninguém. Com medo de se machucar, ela havia se fechado em uma casca por toda a sua vida. Em vez de pessoas, ela amava os animais - estes não a machucariam. E essa proteção funcionou por muitos anos. Para efeitos práticos, vamos chamá-la de Vera.
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Era uma vez outra menina, que havia se entregado demais (essa será chamada, a partir de agora, de Olívia). Corroída, usada, desprezada, essa menina morria de medo de sofrer de novo. E se protegia escondendo todas as suas fraquezas para parecer forte e satisfeita com sua vida.
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Um dia essas duas meninas se apaixonaram. As proteções e os orgulhos de início não atrapalharam. Tudo ia muito bem, cada uma pensando que estava mantendo o controle da situação. (Aliás, a necessidade de controle dessas duas era muito grande.) Até que um dia elas brigaram.
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Olívia, ao conhecer o imenso mundo dentro de Vera, se assustou. Ela não conseguiu esconder suas fraquezas, seu desconhecimento, seu estranhamento. Sentindo-se pequena e ignorante, repeliu Vera por medo de que ela a achasse desinteressante e burra e desejasse se afastar de vez.
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Vera, vendo-se finalmente despida de suas proteções, se percebeu vulnerável e desvalorizada. Sentiu como se seu mundo fosse desimportante para a outra, e ficou diminuída, triste, incrédula. Com medo de Olívia achá-la chata e desestimulante, fechou-se de novo em sua casca com toda sua mágoa e angústia pela expectativa de ser descartada. E, assim, as duas esperaram o término.
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Decidida a não sofrer de novo, Olívia (que já havia chorado, e gritado, e quase batido o carro) falou que não via motivos para as duas ficarem juntas. Vera, que sempre havia sido inabalável, chorou. Elas brigaram, gritaram, choraram e descontaram todos os medos e expectativas uma em cima da outra. Nessa noite, o namoro quase acabou.
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Depois que todas as emoções surgiram e foram embora, o que ficou foi a sinceridade. Tudo aquilo tinha acontecido, na verdade, pelos medos e orgulhos das duas. Envergonhadas, mas ainda machucadas, elas decidiram passar por cima daquilo. Vera foi para a casa de Olívia de madrugada. Elas se beijaram, declararam seu amor uma pela outra e dormiram juntas. E acordaram juntas no outro dia, e no outro, e no outro, e no outro, e no outro, e no outro, e viveram felizes para sempre!
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